terça-feira, 12 de abril de 2011

Aquecimento Global- O que a Rússia tem a ver com isso?

Desenvolvi o texto abaixo para a aula de Análise e Formulação de Projetos Internacionais, que na verdade deveria chamar-se Meio Ambiente e Cooperação Internacional (não aprendemos como formular projetos... Mas, isso é assunto para outro post, demonstrando minha insatisfação com o projeto pedagógico- ou seria a ausência de um?- de Relações Internacionais na Universidade da Amazônia).
Pesquisei sobre a Rússia e seu envolvimento na questão ambiental e as cooperações multilaterais atuais. Segue abaixo o texto, bom proveito...


Com uma área total de exatos 17.075.200 kms² e tendo 13% de seu território coberto de água, a Federação Russa dispõe de uma vasta gama de biomas diversos, indo desde desertos cobertos de gelo até mesmo a florestas temperadas. Sendo o maior país do mundo atual, suas decisões e ações relacionadas ao meio ambiente tem repercussão a nível mundial. Por isso, caracteriza-se como uma peça-chave nas políticas macroambientais atuais.
A preopação e o engajamento do país na questão ambiental nunca foi uniforme, variando conforme o seu período histórico e político. Na época em que ainda atendia pelo nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, houve uma crescente destruição ambiental que não teve concorrentes nas demais fases históricas. Ainda que a ideologia comunista em voga pregasse que o aniquilamento ambiental era consequência direta da exploração capitalista insaciável. Afinal, após a revolução o país encontrava-se engatinhando rumo à industrialização, de maneira que era uma estratégia essencial investir maciçamente nesses embriões da industrialização para fortalecer a nação, única célula comunista num mar capitalista já fortemente industrializado. Tanto é que estudiosos do meio ambiente na época associam certos fatores que contribuíram para a degradação ambiental durante o período comunista:
• Recursos ambientais como o ar ou a água eram considerados como infinitos e sem valor econômico;
• A propriedade coletiva dos recursos naturais não encorajava a conservação por civis ou firmas (que, por sua vez, eram governamentais);
• A militarização da economia encorajou uma cultura de sigilo, especialmente em relação aos processos industriais;
• A monopolização partidária desencorajava discussões de temas importantes como o meio ambiente;
• A complacência disseminada entre grande parte da população, derivada da riqueza natural do país e suas proporções territoriais.

É interessante notar que as principais mudanças de paradigmas aconteceram em torno dos anos 1980, talvez decorrentes da Glasnost de Mikhail Gorbachev, que possibilitou uma aproximação entre a política do país, suas dinâmicas econômicas e a população em geral. Além disso, o desastre de Chernobyl aumentou a visibilidade do tema, colocando a agenda ambiental como um dos principais assuntos da época.
A primeira atitude governamental soviética veio em 1988, com a criação da Goskompriroda- o Comitê Estatal de Proteção Ambiental, cujo missão principal seria conduzir pesquisas e análises ambientais para todos os futuros projetos do país. Tal iniciativa foi de tamanha importância que, naquele mesmo ano, evoluiu para Ministério do Meio Ambiente.
Havia, de fato, uma tendência crescente no que se relacionava com a gestão responsável do meio ambiente numa tentativa de corrigir os abusos cometidos durante a industrialização, especialmente após a desintegração da União Soviética. Mas a crise financeira que assolou o país em 1998 provocou um retrocesso quanto às questões ambientais, culminando com a desintegração do Ministério do Meio Ambiente e o encorajamento à exploração da natureza como forma de reaquecer a economia.
Sem uma autoridade Federal conduzindo políticas nacionais para o Meio Ambiente, tal temática foi descentralizada sob as responsabilidades de cada um dos 83 estados russos, que deveriam criar suas próprias agências para assuntos ambientais. Apesar disso, não se pode afirmar que a Rússia como país não se engajou na cooperação internacional pelo meio ambiente. Prova disso são os mais de 30 tratados ambientais bilaterais e os mais de 25 tratados regionais, assinados durante a década de 1990.
Todavia, é perceptível que a Rússia tem se mostrado muito mais favorável em relação a tratados que lhe concedam incentivos econômicos ou de segurança ou, ainda, de transferências de tecnologias. Não à toa, o país ratificou o Protocolo de Kyoto apenas em 2004, e não é coincidência que no mesmo período a União Europeia tenha apoiado sua candidatura como membro da Organização Mundial do Comércio.
Além disso, percebe-se que o país se mostrava bem disposto a assinar os tratados que visavam a diminuição da poluição industrial, mas não demonstrou comprometimento e esforços efetivos para implementar, de fato, as mudanças propostas pelos Tratados. Como consequência, notamos ainda a relutância russa em assinar a renovação do Protocolo de Kyoto, em 2012, conforme anunciado por seu representante oficial em Cancún, no fim de 2010. Segundo ele, uma renovação de tal tratado não será efetiva nem cientificamente, nem politicamente nem ambientalmente.